Grupo de Ação Revolucionária Antifascista
Frente Unitária Antifascista : Foi imperfeita mas faz falta !
jun 10
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Introdução: Este texto tem por objetivo fazer a minha critica pessoal do que foi a Frente Unitária Antifascista criada em 2018 e dissolvida em 2021, com o intuito de poder evitar a reprodução dos erros que foram cometidos durante estes três anos e aproveitar o que funcionou e foi benéfico, na eventualidade de criar uma nova plataforma nacional para a luta antifascista. Não reflete a opinião do meu coletivo atual no qual muitos não conheceram a FUA mas, no entanto, servirá para aprendermos e debatermos sobre o passado que herdamos. De certeza que a critica feita por outros membros pode ter pontos de vistas diferentes, pelo que incentivo cada um a poder fazer a sua própria critica. O texto será dividido em três partes: A primeira parte terá como objetivo apresentar o que foi a FUA nas grandes linhas, para ativistas que não tenham conhecido a plataforma.
A segunda parte será uma critica pessoal na FUA onde tentarei começar por explicar como ocorria na FUA, o que funcionava e o que não funcionou.
A terceira parte será um resumo das duas primeiras parte com uma reflexão pessoal sobre a possibilidade de voltar a se criar uma estrutura antifascista de cariz nacional em Portugal num curto ou médio prazo.
PARTE I
1. Frente Unitária Antifascista
2. Composição
3. Organização
4. Formações e debates internos
5. Ações marcantes
1. Frente Unitária Antifascista
A Frente Unitária Antifascista foi uma plataforma nacional de ativistas e de várias organizações, das quais núcleos antifascistas, coletivos anti-racistas, sindicatos etc... formada no dia 18 de Novembro de 2018 em Braga, pelo Núcleo Antifascista de Braga, o Núcleo Antifascista do Porto, a SOS Racismo, a UMAR, o movimento Braga Para Todos e ativistas independentes. Foi criada no seguimento de uma sessão de debates do Núcleo Antifascista de Braga sobre a atuação de grupos neonazis nas cidades do Porto e de Braga. Foi durante um destes debates que foi expressada a vontade de criar uma plataforma que pudesse incluir vários ativistas e organizações antifascistas, levando a convocar nova sessão de debates na qual foi formalizada a criação desta mesma plataforma.
Algumas divergências foram aparecendo com o tempo, levando à saída de algumas organizações enquanto iam aparecendo também novos núcleos que eram integrados à organização. A primeira saída de uma organização filiada à FUA aconteceu em Braga, com a saída do Braga Para Todos por causa de divergências a volta da questão de participar em eleições com o movimento e das relações entre a direção do movimento BPT e partidos de centro-direita.
A segunda saída foi de um grupo de ativistas próximos do Bloco de Esquerda, depois de uma ação de pichagens nas ruas de Braga que criou um debate sobre este tipo de ações e o respeito pela «propriedade privada». Sendo minoritários na defesa da mesma e estimando que era incompatível com a visão da luta que tinham, o grupo de ativistas optou por sair da plataforma.
A terceira operou-se em 2020 com a saída da SOS Racismo no seguimento de tensões sobre a visão que tinham da luta, sendo que a SOS Racismo incentivava a uma visão mais moderada e institucional da luta, enquanto os coletivos antifascistas defendiam uma visão mais radical e direcionada para ações de rua mais agressivas. Também houve nesta altura um debate bastante tenso sobre o «identitarismo» de coletivos anti-racistas à qual parte dos membros da plataforma não aderia.
Acabou por ser dissolvida em 2021 depois de uma cisão, no seguimento de tensões e lutas pelo controle do movimento entre militantes do partido MAS - Movimento Alternativa Socialista e outros membros e dirigentes que desejavam manter um movimento independente de qualquer influência e controle partidário. Desta cisão surgiram dois coletivos, a União Antifascistas Portuguesa criada por antifascistas independentes e a Rede Unitária Antifascista, criada pelo MAS.
2. Composição
A FUA atuou durante mais ou menos três anos, com uma evolução da sua composição que foi marcada por saídas de coletivos e ativistas mas, também, pela criação de novos núcleos locais e a adesão de novos ativistas. Uma renovação regular que permitiu à organização evoluir e adaptar-se ao seu contexto.
No dia da sua criação estavam presentes como organizações o Núcleo Antifascista de Braga, o Núcleo Antifascista do Porto, o Núcleo Antifascista de Viana do Castelo, a SOS Racismo, , o sindicato de trabalhadores de Call-Center « STCC», o movimento Braga Para Todos e a UMAR. Estavam também presentes elementos do partido MAS - Movimento Alternativa Socialista, do partido BE - Bloco de Esquerda, elementos do partido LIVRE e ativistas independentes sensíveis a causa do antifascismo.
Na última assembleia enquanto Frente Unitária Antifascista, estavam integrados à plataforma como organizações o Núcleo Antifascista de Braga, o Núcleo Antifascista de Guimarães, o Núcleo Antifascista de Viana do Castelo, o Núcleo Antifascista de Bragança, o Núcleo Antifascista de Santa Maria da Feira, o Núcleo Antifascista de Évora, o Núcleo Antifascista da Povoa de Varzim, a Brigada Alcindo Monteiro, a Brigada Fernanda Mateus, a Plataforma Antifascista de Coimbra, a FIBRA - Frente de Imigrantes Brasileiros Antifascistas, o Ativismo em Foco, o Ultras Contra o Racismo, o MAS, o STCC e o STOP. Estavam também filiados à volta de 70 ativistas independentes no país.
Qualquer ativista ou organização que pretendia se juntar à FUA era apresentado em Assembleia Geral para ser aceito na plataforma e, muitas vezes nos casos dos independentes, acompanhados e/ou integrados pelos núcleos locais quando existissem perto do ativista em questão.
3. Organização
A FUA passou por várias fases e modelos de organização tentando se adaptar conforme o crescimento e o contexto em que estávamos a evoluir. Mas para facilitar e resumir esta critica, vou apresentar a forma que mais usamos durante estes três anos e que marcou o último período de atividade da plataforma.
Existiam na FUA três «níveis» de organização submetidos à um «nível» de decisão:
O órgão de decisão era a Assembleia Geral, convocada geralmente uma vez por mês e na qual todos os ativistas e organizações da FUA podiam participar. As vezes, eram abertas para permitir a participação de ativistas que colaboravam com a FUA sem estar nela filiada ou de membros que desejavam se juntar à plataforma. Eram aqui tomadas as principais decisões quanto a ações, organização e funcionamento da FUA.
A organização geral da FUA a nível nacional, chamada «Coordenação» era composta pelos porta-vozes de cada organização filiada (1 porta-voz por organização). Tinha como responsabilidade a coordenação das ações decididas em Assembleia Geral como manifestações, debates, campanhas de pichagens e colagem de cartazes etc....entre as diversas organizações e ativistas independentes da FUA. Tinham também a responsabilidade e um certo poder de decisão al em casos específicos e de emergência onde não se podia esperar pela convocação de uma Assembleia Geral. Também através desta coordenação existia uma comissão de ética, criada para poder gerir as eventuais situações de tensão internas na FUA ou de conflitos entre membros.
A organização dos núcleos antifascistas da FUA a nível nacional, chamada «Representantes dos núcleos» apareceu numa fase já avançada da FUA em que vários núcleos foram criados em todo o país e que surgiu a necessidade de existir uma coordenação apenas entre os núcleos, para a execução de ações mais especificas e «diretas» que não podiam ser realizadas com as restantes organizações ou que os núcleos queriam organizar apenas entre eles. Era composta por um porta-voz de cada núcleo antifascista (1 porta-voz por núcleo). Era também enquadrada pelas regras e estatutos decididos em Assembleia Geral bem que, na prática, podia acontecer que contornassem um pouco certas regras na realização de algumas ações diretas.
A organização a nível local era responsabilidade dos núcleos ou organizações que atuavam nas suas zonas respetivas e que tinham autonomia para organizar ações próprias em nome próprio ou em nome da FUA caso a ação tivesse sido aprovada em Assembleia Geral.
4. Formações e debates internos
Passados os primeiros meses da FUA e de forma a dar continuação ao trabalho feito nos núcleos, começou-se a fazer também formações e debates internos na FUA.
Eram organizados debates sobre assuntos de atualidade ou assuntos mais gerais que eram trazidos pela Coordenação ou a pedido de organizações. Primeiro debatidos em interno, eram as vezes repetidos mas em formato aberto a público, com oradores convidados. No Porto por exemplo, as reuniões eram organizadas uma vez por semana e em cada uma delas algum ou algum camarada encarregava-se de trazer um assunto a debate na próxima reunião através de um texto que era partilhado com os outros membros do núcleo. Também eram feitas formações nos núcleos e em sessões abertas a todos os ativistas da FUA, presencialmente e online (sobretudo durante a pandemia) na qual também se convidada as vezes alguns oradores externos como por exemplo a Irene Pimentel ou ainda o coletivo Bandeira Vermelha. Sobre os debates internos, tentávamos organiza-los numa primeira fase nos núcleos e, numa segunda fase, numa Assembleia Geral de forma a poder definirmos posições mas também de forma a poder consciencializar sobre certas causas e lutas e aperfeiçoar a formação política dos ativistas.
5. Ações marcantes
- 10 de Agosto de 2019, Lisboa : 1° Manifestação Nacional Antifascista em resposta a uma conferência de neonazis europeus organizada pelo Mário Machado. https://www.contacto.lu/portugal/anti-fascistas-e-nazis-manifestam-se-em-lisboa/427205.htmlhttps://www.rfi.fr/pt/20190810-manifestacao-contra-extrema-direita-em-lisboa
- 20 de Julho de 2020, Lisboa: 2° Manifestação Nacional Antifascista
- 1 e 2 de Agosto de 2020, Porto e Coimbra : Manifestações contra morte de ator Bruno Candé e das vítimas do racismo. https://tvi.iol.pt/noticias/sociedade/bruno-cande/frente-unitaria-antifascista-organiza-manifestacoes-contra-vitimas-do-racismo
- 12 de Agosto de 2020 : Receção de ameaças pela «Nova Ordem de Avis» a dirigentes antiracistas, dirigentes da FUA e três deputadas.https://www.dn.pt/pais/pj-abre-inquerito-a-ameacas-de-neonazis-contra-deputadas-e-lideres-antirracistas-12517537.html/
- 14 Agosto de 2020 : Anúncio da aceitação pelo Parlamento da petição «Contra a conferência neonazi em Lisboa» promovida pela FUA com quase 10’000 assinaturas e o apoio de umas 50 organizações nacionais e umas 50 organizações internacionais.
- 14 Agosto de 2020: Novas ameaças ao Jonathan Costa, depois de uma outra tentativa de agressão e uma tentativa de homicida. https://observador.pt/2020/08/14/frente-unitaria-antifascista-denuncia-ameacas-a-integridade-fisica-por-alegado-homem-ligado-a-extrema-direita/
- 16 de Agosto de 2020, Lisboa e Porto : Concentração Antifascista, no seguimento de um e-mail de ameaças a dirigentes da FUA, dirigentes de organizações anti-racistas e três deputadas portuguesas, e de uma «parada do Klux Klux Klan» organisada em frente à sede da SOS Racismo por um grupo neonazi. https://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/centenas-manifestam-se-em-lisboa-contra-crescente-a-vontade-da-extrema-direita
- 18 de Setembro de 2020, Évora : Concentração pela Liberdade em resposta a uma manifestação do partido de extrema-direita «Chega». https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/concentracao-pela-liberdade-em-evora-recebe-chega-com-grandola-vila-morena
Parte II
1. Critica sobre a relação com partidos políticos
2. Critica sobre a forma de organização
3. Critica sobre as ações e tipos de ações realizados
4. Critica sobre as ações internas
1. Sobre a composição
Passaram-se 3 anos desde o fim da FUA e no entanto, continuo a odiar o dia onde tomei a decisão de convencer o pessoal em aceitar pessoas ligadas a partidos, em concreto ao MAS, iniciando sem saber o fim da plataforma. Culpa que assumo perfeitamente, sendo que na altura era quadro do partido e, mesmo que fosse enganado, ninguém me obrigou a ajuda-los a abrirem as portas que deixariam que acontecesse o que acabou por acontecer.O que me leva ao primeiro ponto desta critica, a entrada de partidos na composição de uma plataforma antifascista nacional como foi a FUA.. Tomando como exemplo as relações que teve a FUA para com o MAS, a participação ou melhor, a colaboração de partidos na parte mais «institucional» da luta (petições, manifestações, etc...) pode e deve ao meu ver ser aceito mas, sobre condições.
De facto, não podemos negar que através do partido, a FUA beneficiou da participação de quadros políticos envolvidos, que não falhavam qualquer reunião ou ação, com um habito de debater ideais e conceitos políticos e com experiência no ativismo e na política em geral. Este quadros acabavam por ajudar nos debates, nas formações e também na organização em geral da FUA tendo um efeito benéfico que ajudou a plataforma a poder funcionar.
Também não vamos negar que o facto de ajudarem nos apelos à mobilização teve um impacto, menor ou maior dependendo as ações, que permitiu aceder a mais ativistas que acabaram por se tornarem membros da FUA ou ainda ter mais visibilidade na comunicação social acabando por ajudar a promover a plataforma e ganhar mais aderentes.
No entanto, não podemos esquecer o resto que esta colaboração levou à plataforma.
Como todos sabemos, a tendência neste tipo de relações entre organizações apartidárias e partidos e estes últimos tentarem usar as organizações como centro de recrutamentos e também como satélites do próprio partido para defender causas ou participar em ações, orientando a organização com a injeção de vários quadros e militantes que possam influenciar os restantes ativistas no sentido desejado ou ter peso suficiente para forçar votos caso seja necessário. Sem esquecer que no caso de ter apenas um partido nesta relação leva à criação de tensões com ativistas que possam aderir a outras ideologias e acabar por afasta-los caso o partido em questão consiga demasiado se impor sem respeitar as sensibilidades políticas de cada ativista. Um perigo do qual estamos todos conscientes e que na altura não ignoramos, tendo eu próprio avisado o partido que se fosse longe demais neste sentido, seria o primeiro a me opor internamente no partido e na plataforma, o que acabou por acontecer alias com a minha desfiliação e a luta que seguiu.
Ao início, o partido «jogou o jogo» apoiando as iniciativas, dando ideias para a organização da estrutura e das ações, participando nos debates etc...sem tentarem se impor, forçar posições ou forçar votos. Uma colaboração benéfica para a plataforma. Mas rapidamente (e verifiquei isso dos meus próprios olhos sendo membro do partido) começaram alguns desvios, pequenos mas que iam aumentando com o tempo. Começou com a decisão de injetar mais quadros do partido nos núcleos para tentar ganhar peso nas tomadas de posição e nos debates, seguiu com a organização de reuniões antes das reuniões dos núcleos ou da coordenação onde todos os militantes que participavam nos núcleos, e sobretudo os quadros, metiam-se de acordo sobre as posições a defender e os argumentos a usar para orientar a plataforma, chegando até a adaptar a argumentação a certos elementos que sabíamos serem mais afastados da linha do partido.
Mas o que considero ser o ponto de não-retorno foi o momento em que se começou a forçar a nomeação de quadros do partido na Coordenação através da eleição dos porta-vozes dos núcleos com a mobilização dos militantes do partido para que estejam presentes nas eleições e telefonemas a ativistas que não eram do partido mas com quem tínhamos boas relações para tentar influenciar o voto deles. A partir de aí, o partido tinha de forma efetiva o controle sobre parte do movimento, tendo a disposição várias formas de poder influenciar e por vezes até forçar posições da plataforma e a organização de ações.
Mas na euforia do momento criada pelo rápido crescimento da plataforma, a criação de novos núcleos em todo o país, a chegada massiva de novos aderentes, a visibilidade que conseguíamos na comunicação social etc.... ninguém deu conta do que se preparava, nem eu que era quadro do partido e portanto sabia muita do que era falado no partido fora as conversas e decisões tomadas pelo comité central do partido.
O resultado foi uma decisão do Comité Central à qual tive acesso (junto em anexo deste texto) que anunciava claramente a vontade de tomar o controle da plataforma e usa-lo para recrutar novos militantes para o partido. Decisão à qual tive acesso na altura e que me levou primeiro a embater com o partido e, vendo que a decisão não o se ia alterar, de me desfilhar do partido e denunciar isso numa Assembleia Geral. Infelizmente, foram mais rápidos e antes que pudesse acontecer, já tinham sido feitos os contactos para uma campanha de difamação e calunias dirigidas a mim (e numa segunda fase aos que se juntaram na luta contra esta tomada de poder) que levou a minha saída do Núcleo Antifascista de Braga e da Frente Unitária Antifascista sem antes ter cortado o acesso das contas e dos arquivos aos membros deste partido de forma a garantir que não pudessem usufruir impunemente do trabalho de centenas de ativistas para o partido. E aí está, na minha opinião, o principal erro. Jamais deveríamos ter deixado o partido injetar tantas pessoas do partido na plataforma e menos ainda em lugares de responsabilidade como os de porta-voz e de membros da Coordenação. E se algum dia viermos a criar uma nova estrutura que pretenda agregar os antifascistas a nível nacional, teremos que ter isso em atenção porque acredito que sempre que haverá um partido envolvido, terão que ser definidos limites claros e meios de controle para evitar que isso possa voltar a se reproduzir. Uma forma simples ao meu ver é garantir a rotatividade destes lugares de responsabilidade e tentar sempre que possível nomear pessoas apartidárias.
2. Sobre a forma de organização
Este ponto será bastante curto porque, na minha opinião, a forma de organização que utilizou a FUA não era seguramente a melhor imaginável mas era de fato eficiente e mesmo que precisasse ser melhorada, permitiu que a FUA funcionasse durante um pouco mais de três anos. Considero que a criação de «níveis» é necessário não só para garantir que os coletivos locais possam ter vida própria que lhes permite crescerem e evoluir mas, também, levar a luta o mais longe e em mais lugares possível, mas também que não acabem por atuarem de forma demasiada isolada tendo um efeito global que seja pouco significante e que possa até, ser contra-producente para com outros coletivos em outros lugares do país. Por isso, defendo que neste tipo de plataforma possam e devam existir dois níveis de organização. Um nível local com a garantia da autonomia dos grupos locais que possam assim se organizarem da forma que acharem a mais adaptada ao contexto em que evoluem e organizarem as ações que acham mais necessárias para o seu território. Varios tipos de ações podem ser organizadas a este nível sem precisar de coordenação nacional, como debates, campanhas de sensibilização, formações, sessões de pichagens/colagem de autocolantes, organização de concertos ou outras ações de recolha de fundos, participação em reuniões e ações locais com outros coletivos etc....enfim, todo o tipo de ação que possam ser desenvolvidas em nome próprio sem envolver o nome da plataforma ou, caso se uso a plataforma, sem lhe causar prejudico. Foi assim por exemplo que se permitiu a criação e o crescimento de novos núcleos em todo o país, que sem esta autonomia não teriam conseguido se adaptarem às especificidades locais e assim, atrair novos ativistas tendo uma luta coerente e eficiente.
E um nível nacional que permite coordenar ações de cariz nacional como grandes mobilizações ou campanhas desenvolvidas em todo o país, a organização de debates internos sobre assuntos da atualidade ou assuntos de caráter nacional para tomadas de posição da plataforma, a organização de festivais, mercados etc.....e também debater as linhas ideológicas da plataforma, tendo em conta a sensibilidade de cada um e podendo assim encontrar um meio termo que permite a todos os ativistas de se reverem nas tomadas de posição e nas ações desenvolvidas em nome da plataforma. Foi alias graças a este nível de organização que conseguimos por a volta de 2000 pessoas e 60 organizações nas ruas de Lisboa no dia 10 de Agosto de 2020 ou ainda juntar centenas em Évora para barrar o Chega numa ação de campanha.
Quanto ao nível das tomadas de decisões, continuo a achar que a forma mais democrática é as decisões serem tomadas em Assembleia Geral evitando ao máximo que sejam tomadas de outra forma ou então, caso se volte a usar este modelo onde a Coordenação possa tomar decisões quando estas são urgentes, que estas mesmas sejam submetidas a apreciação dos membros da plataforma na Assembleia Geral logo a seguir de forma a garantir que a Coordenação não possa fazer da plataforma uma estrutura por ela dirigida. E nisso, a FUA falhou, deixando demasiado liberdade e faltando imenso escrutínio aos atos da Coordenação que acabou (inclusivo no período em que eu ainda la estava) por ser de facto quem decidia das ações e das tomadas de posições na maioria dos casos.
Considero que relativemente aos «representantes de núcleos», não faria sentido existir já que, como irei explicar um bocadinho mais longe neste texto, acredito que ações especificas a grupos antifascistas devem ser separadas de ações desenvolvidas por esta plataforma, de forma a evitar criar tensões com organizações mais «moderadas», aliadas na luta mas não diretamente envolvidas ou que não percebam a visão tradicional desta luta pelo movimento antifascista. O que não impede a criação de uma estrutura paralela que tenha por objetivo permitir esta coordenação entre grupos antifascistas mas, no meu ver, de forma independente da plataforma «geral».
3. Sobre as ações e tipos de ações realizados
A FUA, ao longo dos três anos de atividade, organizou varias e variadas ações que foram evoluindo conforme a estrutura também evoluía, de pequenas manifestações e ações de protestos ou ainda pichagens e colagens de autocolantes em cidades, para petições nas quais representantes da plataforma foram ao Parlamento para defenderem a mesma, manifestações com milhares de participantes e dezenas de organizações ou ainda formações com convidados reconhecidos nas suas áreas de atuação. No entanto, foi o facto de ter tanta variedade que levou a criação de tensões, saída de alguns coletivos e ativistas e problemas jurídicos que acabaram por impactar a própria plataforma.
De facto, na FUA existia espaço tanto para ações mais institucionais, como para ações mais diretas. Esta mistura era benéfica no sentido de ser agregadora e dar espaço para mais «perfis» diferentes de ativistas. No entanto, rapidamente começou a criar tensões entre as pessoas que acreditavam ser necessário focar mais nas ações diretas e as pessoas que defendiam uma luta mais institucional, mais aceita pela população em geral. Duas visões da luta que levaram a debates tensos, a divergências e criticas internas intensas entre as duas visões e, finalmente, à saída de alguns coletivos e ativistas que acabaram por serem minoria na plataforma e não viam a possibilidade de encontrar um compromisso dentro da FUA.
Um episódio que mais marcou o pessoal na altura, foi quando uma ação de pichagem de símbolos antifascistas foi organizada em Braga, para cobrir pichagens neonazis do pessoal do grupo Escudo Identitário e na qual uma das pichagens foi feita na casa de um morador da cidade. A ação foi divulgada nas redes sociais e logo a seguir na Assembleia Geral, elementos do BE mostraram o seu desagrado, defendendo que não achavam correto e produtivo pichar em propriedades privadas, preocupados que os moradores possam se virar contra nós por causa desta ação. A maioria dos membros da plataforma no entanto defendiam que este tipo de ações eram necessárias não só para marcar território e mostrar aos neonazis que estávamos atentos mas, também, para tapar a propaganda deles e não permitir que símbolos como os que eles usavam sejam normalizados nas ruas da cidade.
O debate foi bastante tenso e no fim da Assembleia Geral, o grupo de ativistas exprimiu o seu desagrado anunciando que iriam se afastar da plataforma por terem uma visão diferente da luta e nao compactuarem com ações deste tipo. Isto leva a uma questão que para mim é primordial, que é o tipo de ações que devem ser desenvolvidas no tipo de estrutura como era a FUA. E nisso, acho que erramos. Erramos porque a FUA foi claramente uma plataforma com cariz mais institucional a partir do momento onde decidimos fundar a plataforma com organizações legalistas como a SOS Racismo ou ainda os sindicatos presentes. De facto, desde a sua fundação a FUA foi uma organização mais legalista mas não tínhamos consciência disso e quisemos tentar misturar todos os tipos de ações, de forma a agregar mais pessoas e por não percebermos que isto iria criar tensões. Na minha opinião, as duas formas de lutas são necessárias. A luta na rua não chegará ao resultado que procuramos sem uma luta também institucional, como também a luta institucional não conseguirá atingir os nossos objetivos sem que a luta aconteça também diretamente nas ruas através de ações mais diretas. No entanto, temos que perceber a diferença entre as duas formas de ação, os objetivos a curto-médio prazo das mesmas e, sobretudo, o tipo de ativistas que nelas se enquadram. Isso para percebermos que as duas lutas devem ser feitas em paralelo mas, não na mesma estrutura.
No caso da luta institucional, os ativistas que nela se enquadram são mais os ativistas que geralmente se situem mais na esquerda ou centro-esquerda do espetro político português, ou ainda ativistas que chegaram a um ponto onde desejam ou são obrigados a lutar mas de forma mais segura e mais tranquila, por terem filhos, por terem já uma certa idade, por terem problemas jurídicos e mais umas quantas razões que o possam justificar. Esta forma de luta é feita principalmente através de ações de propaganda, manifestações públicas, formações, debates, petições, pressões políticas com tomadas de posições, alianças com forças partidárias etc etc.....
Uma forma de luta que serve sobretudo a conseguir mudar pouco a pouco o sistema favorecendo o contexto no qual lutamos e, assim, permitindo não só a adesão de mais pessoas (ativistas que conseguem ganhar minimamente são mais disponíveis para participar em atividades e deslocarem-se que ativistas em situação de precariedade). Também permite uma certa preparação do terreno para ações mais diretas, agindo a nível da consciencialização do povo, da influência na opinião pública e na promoção da luta (que indiretamente acaba também por promover as formas de luta que nela se inserem). Também permite uma certa visibilidade que, mais uma vez, permite influenciar a opinião pública, afastar a desconfiança para com o movimento antifascista, ajudar a lançar debates sobre as nossas pautas sem serem vistas como pautas radicais e rejeitadas ou ainda permitir a adesão de pessoas novas que desconhecem o movimento e acabem por radicalizarem-se ao perceberem o que envolve esta luta e tendo a disponibilidade para isso.
No caso da luta mais direta, acredito que seja mais dirigida para ativistas que se situam mais à esquerda no espetro político, na chamada esquerda radical e na ultra-esquerda, mas também ativistas com mais possibilidade e disponibilidade para participar em ações que possam incluir riscos jurídicos ou riscos pela saúde e pela vida. Esta forma de luta é mais orientada para ações diretas, confrontos com grupos neonazis ou grupos que defendem o ideal capitalista, ações de sabotagem, marcação de território, participação em manifestação no formato de Black Blocks, ocupações, etc etc....Uma forma de luta que vai permitir atingir diretamente os interesses capitalistas e os seus defensores e criar danos no sistema capitalista e nos valores fascizantes para desgasta-los cada vez mais. Também permite criar melhores laços entre ativistas, ajudar na integração e assimilação dos nossos valores, aumentar a segurança das pessoas oprimidas e dos nossos ativistas e desmotivar as forças inimigas através do medo ou do desgaste que as ações causam nas suas fileiras.
Como dito antes, a luta apenas institucional não pode atingir os objetivos, sendo confrontada a uma opinião pública cada vez mais hostil aos nossos valores pela ação da propaganda capitalista e atuando contra nós, à falta de efetivos na nossa luta ou à falta de formação e capacidades de ação da mesma, ou, no pior dos casos, pela falha total que permite o ressurgimento de um regime fascista levando a uma mudança drástica da luta. Já a luta desenvolvida apenas de forma mais direta acaba por ter demasiada resistência popular para conseguir mudar as mentalidades, visibilidade insuficiente para conseguir novos ativistas e mais força para as ações ou ainda o agravamento das condições do povo que possam levar à desmotivação dos próprios ativistas ou ao afastamento por simplesmente não conseguirem conciliar sobrevivência com o ativismo. Um sistema muda-se destruindo as suas bases mas, também, construindo uma alternativa. Não basta destrui-lo para ele mudar, apenas irá se reconstruir como também não é suficiente apresentar apenas uma alternativa se esta não tiver forma de ganhar novos aderentes e não existirem falhas suficientemente visíveis para ser uma opção para o povo.
Por estas razões, defendo que se realmente existe a vontade de voltar a criar uma estrutura para o movimento antifa em Portugal, devemos primeiro definir para que tipo de ações a queremos criar e se existe ou não possibilidade de criar também uma segunda estrutura paralela para complementar a luta. Caso existe esta possibilidade, acredito que o contexto atual, o ressurgimento de antigos ativistas e novos ativistas que se tem organizado como também a conjuntura internacional sejam parâmetros que indica que este seja um bom momento para iniciar de novo este projeto.
4. Sobre as ações internas
Na FUA, e na maioria das suas organizações, foram organizadas diversas ações internas como debates, formações ou ainda reuniões informais que tinham mais como objetivo criar e reforçar laços entre os ativistas. Ações que, na minha opinião, são primordiais numa estrutura como a FUA mas que no entanto devem seguir algumas regras ou, digamos, ter alguns limites. Relativamente às formações, acredito que o modelo que era desenvolvido no Núcleo do Porto, no Núcleo de Braga ou ainda nas ações de formação geral da FUA são o melhor modelo que foi usado nesta altura. Formações não muito extensas, focadas num tema e desenvolvidas em várias sessões no caso de temas mais complexos. Eram iniciadas com a disponibilização de material como um texto ou ainda um vídeo, que servia de suporte para uma fase onde um convidado ou algum elemento mais a vontade com este assunto apresentava e desenvolvia sobre o assunto, seguido de uma fase onde abria-se a discussão com todos os presentes para aprofundar e esclarecer duvidas ou ainda formar propostas para tomadas de posições ou linhas que eram propostas em Assembleia Geral.
Também existiu outro modelo de formação proposta e organizada na altura pelo MAS. Por exemplo, tivemos uma formação sobre a revolução espanhola que ocorreu em casa de um casal de militantes do Partido, com elementos do partido e na qual eram convidados elementos da FUA durante um fim-de-semana. Mas acredito que este formato é demasiado extenso no tempo e no conteúdo, sem falar da orientação ideológica que esteve claramente marcada nesta formação. Acredito que devam ser feitas formações para garantir que todos os ativistas de uma estrutura antifa, seja ela mais orientada para a luta institucional ou de rua, possam ter as ferramentas que vão servir nesta luta mas, também, para garantir que tenhamos uma base conjunta a nível ideológica, que possa integrar valores e ideais de várias sensibilidades políticas que constituem o espetro político de esquerda mas que acabam por ser compatíveis, encontrando um meio-termo no qual focamos no que nos une e deixamos de lado o que nos separa.
Um bom meio também para termos como claro o caminho que leva a luta no contexto da estrutura em questão, sendo que caminhos paralelos desenvolvidos a níveis individuais ou através de outros coletivos também são validos e complementares à luta antifascista no seu geral. Quando aos debates internos, acaba por ser a mesma coisa no sentido em que deva prevalecer a importância de ter um espaço que possa respeitar as diferenças ideológicas entre ativistas e procurar encontrar meios-termos sem nunca tentar impor algo que não seja consensual. Os assuntos a serem debatidos nesta luta são vários e a cada dia que passa aparecem novos. O importante sendo de não esquecer que debates sempre são bons, mas também não queiramos criar uma estrutura que acabe por ser uma academia ou um clube de leitura. Ou seja, organizar debates que tenham importância na luta, procurar formatos que possam ser executados com uma relativa rapidez e eficiência e sempre procurar que exista consenso entre os ativistas.
Outras ações internas desenvolvidas na altura pela FUA mas, mais especificamente por alguns dos núcleos, eram momentos de reuniões informais. Importantíssimo ao meu ver para criar e reforçar laços entre ativistas. Nunca esquecemos que esta luta tem seus riscos e que se não evoluirmos numa ambiente onde exista confiança para com o pessoal com quem lutamos, não conseguiremos desenvolver todo o nosso potencial e sermos eficientes. Por isso acredito que devam ser organizadas e apenas não digo obrigatórias porque não gosto de autoritarismo, reuniões informais onde o pessoal possa ir beber um copo junto, visitar uma cidade e aproveitar para marcar alguns spots de interesse, verem juntos uns filmes ou documentários, participar em eventos de outros grupos em Portugal ou ainda noutros sítios com o seu coletivo etc etc...
Parecendo que não, são também estes momentos que nos permitiram, em certas ocasiões, perceber que alguns camaradas infelizmente não estavam preparados para esta luta ou não tinham consciência do que comportava a luta na qual se queriam integrar.
Parte III
1. Resumo
2. Conclusão
1. Resumo
Chegamos ao ponto em que o balanço geral foi da FUA é globalmente positivo. Como dito na segunda parte, enquanto dirigentes e ativistas da FUA, cometemos erros. Por excesso de confiança, por falta de experiência e por não termos também exemplos concretos recentes nos quais nos apoiar em Portugal com este tipo de estrutura.
A forma como foi organizada a FUA durante estes três anos foi sem dúvida o ponto mais positivo a nível desta critica, sendo o que permitiu que a FUA aguente três anos e, certamente, teria aguentado mais ainda. Há coisas que deviam ter sido melhoradas mas o modelo geral foi comprovado. Um modelo que permite a autonomia a nível local mas que permite também a articulação a nível nacional dos diferentes coletivos. Um modelo que acaba por alimentar as estruturas locais e as fazer crescerem ao mesmo tempo que as ajuda a formarem um bloco coeso no qual todos os coletivos partilham e evoluem em conjunto aproveitando da experiência global do movimento antifascista que pois ser depois adaptada ao contexto local. Acredito que sendo feito algumas pequenas correções ao modelo, este deva ser o que será implementado caso se avance com a criação de uma nova estrutura.
Já a gestão das relações com partidos políticos vem confirmar o que muitos de nós já sabíamos, ou seja, que são necessárias estas relações mas que devem ter limites bem definidos e mecanismos que permitem proteger a estrutura dos efeitos negativos destas relações. Para mim, foi claramente o que mais prejudicou a FUA e levou à sua destruição. Mais uma vez, excesso de confiança e falta de experiência. Foi comprovado mais uma vez que não podemos confiar totalmente nos partidos políticos nem nos seus militantes e ativistas e que temos que manter sempre um pé atrás sem no entanto nos fechar num isolacionismo que em nada ajuda o movimento a crescer e se desenvolver, bem pelo contrário. Tal como é feito em outras estruturas antifas que pertencem à internacional antifascista da AIM, acredito que estas relações devem ser logo definidas de início e serem constantemente alvo de analise e de critica para evitar qualquer deslizo e poder agir o mais rapidamente possível caso seja necessário.
Quanto à questão do tipo de ações desenvolvidas pela FUA, mostra que manter uma postura institucional é incompatível com manter uma postura radical, e vice-versa. As duas faces da nossa luta devem ser feitas em paralelo, sendo complementares, mas serem separadas para poderem ser o mais eficiente possível nos objetivos a curto e médio prazo que cada uma das duas formas de luta tem e que nos permitira alcançar o objetivo final. Por isso, acredito que caso se avance com a criação de uma estrutura antifascista que tenha como objetivo agregar o máximo de ativistas a nível nacional, esta deva ser pensada para se enquadrar numa ou noutra destas formas de luta e sempre tendo em conta que deva existir, em paralelo, o seu complemento.
Finalmente, sobre as ações internas como debates, formações ou ainda convívios, continuo a defender que são ações necessárias que devem ser desenvolvidas seja nas estruturas locais, seja na estrutura nacional se queremos construir um movimento coeso e eficiente no qual cada ativista possa desenvolver o seu máximo potencial nesta luta com o mínimo de risco possível. 2. Conclusão
Acredito que no contexto atual, existe sim a possibilidade e a oportunidade de se criar uma estrutura que possa ajudar na construção e evolução do movimento antifascista em Portugal. E acredito que seja pelo surgimento de uma nova geração de ativistas e o regresso de antigos ativistas, seja pelo contexto político nacional e internacional, ou ainda pela experiência acumulada em diversos projetos e organizações nos últimos anos, esta nova estrutura pode ter muito mais força e impacto na nossa sociedade e no sistema capitalista vigente do que teve a FUA.
O contexto político nacional no qual evoluímos, com o regresso da direita ao poder, despertou em muitos ativistas aquela sensação de emergência e insatisfação que mexe connosco e nos força a voltar à luta, mesmo em casos que pareciam mais desesperados como, admito, o meu. Casos onde por várias razões os ativistas acabaram por se retirarem da luta sem preverem voltar a não ser que a situação seja tão desastrosa que não possamos evitar. Ao mesmo tempo, sinto e observo que muita gente que nos últimos anos eram muitos novos para se interessarem e participarem na luta, ou que não sentiam a necessidade de ir mais além do que a sua participação em organizações mais legalistas e generalistas ou que até simplesmente não sabiam o que era a luta antifascista, acabaram por se juntarem à luta e sentirem a necessidade de se organizar.
Uma nova geração que tem uma grande vantagem sobre a nossa que é de poder beneficiar da experiência e dos erros da geração anterior para poderem criar a sua própria luta. Na nossa altura, os nossos exemplos já eram distantes seja a nível temporal com antifascistas portugueses do tempo da ditadura, ou geográfica com outros coletivos antifascistas mas que evoluíam na especificidade do contexto local em que se encontravam.
O contexto internacional também acaba por ser favorável à nossa luta. Temos visto o regresso de forças autoritárias em todo mundo, ganhando cada vez mais força e juntando cada vez mais pessoas. As diferentes guerras que surgiram também nos mostram que o sistema global está enfraquecido e a atravessar uma nova crise que, esperemos, seja a última antes do seu colapso final. Mas também do «nosso lado» tem tido uma evolução positiva, com o ressurgimento de organizações autónomas antifascistas em varias cidades europeias de aonde tinham desaparecido, o reforço da internacional antifascista, a criação de uma nova internacional comunista revolucionária e outros projetos alternativos que tem aparecido em todo mundo e mostram também que existe resistência e que não estamos sozinhos nesta luta.
Acredito que tendo isso em conta e acrescentando a experiência que novas organizações e ativistas tenham ganho nos últimos três anos que seguiram o fim da FUA, tal como a experiência de ativistas que foram ativos não há assim tantos anos o que os levam a ter uma experiência ainda válida no contexto atual, existem todos os pré-requisitos para que a criação de uma estrutura nacional antifa seja possível e que a mesma se torna numa estrutura eficiente, forte, que possa efetivamente agregar muitos ativistas e organizações que lutam pelos valores que defendemos e que possa ter um impacto real sobre a sociedade levando a que a luta final esteja cada vez menos longe de nós.